«Meia Via» denominação utilizada, pela primeira vez, em documento religioso datado de 1668. O nome deverá provir de facto da localidade se situar a meio caminho da estrada real, que outrora ligava Lisboa a Coimbra. A sua fundação é, contudo, muito anterior data atrás assinalada. A constituição teve por base um conjunto de casais, unidades de povoamento antigo, de que ainda hoje são testemunho os nomes de alguns lugares: Casal do Pote, Casal do Jesuíta, Casal Pinhal, Casal da Moura, Casal Vaz, Casal Garcia Mogo, Ladeira do Pinheiro e Botequim.
Situada numa região de terras delgadas, a Meia Via, sempre fez parte da freguesia de Santiago.
Era uso dizer-se que " as terras da Meia Via não aguentam água nem sol", - eram pobres e fracas, como pobres que foram os meiavienses e os seus remotos antepassados.
Tal pobreza nunca foi, no entanto, impedimento definitivo para os meiavienses que, ao longo dos tempos, se habituaram a serem eles próprios os construtores dos meios para melhorarem as suas vidas.
Nos primórdios instalaram-se em casais (unidades de povoamento antigo). Estes casais deram origem às denominações de muitos dos locias da Meia Via. Nas tais terras pobres, os nossos antepassados percorreram léguas, desbravaram geiras, mediram alqueires e almudes, beberam quartilhos e canadas, abriram palmos de poços, regaram à picota e ao cabaço, produziram adobos, tijolos e telhas.
Desenvolviam assim as actividades agrícolas e artesanais próprias de cada época, em jornadas de canseiras intermináveis.
Uma vez no ano, por altura do solistício do Verão, era tempo de alegria.
Reunidos os casais, sacrificavam uma rês, mais tarde apelidada por boi danado, que depois comiam em bodo colectivo, cantando e dançando cantos e danças de agradecimento à mãe natureza por boas colheitas de azeite, vinho e pão e gados saudáveis na criação.
Foi assim, pelo menos, até aos meados do século XVI.
Quando este conjunto de casais do "Espargal", antiga povoação que depois veio a chamar-se Meia Via, onde, reza a lenda, teriam os cingeleiros de Riachos encontrado a imagem do Sr. Jesus de Santiago, demonstrava já alguma pujança, ergueram a ermida de Na Sra. de Monserrate e surge a primeira referência à Meia Via num pergaminho de cariz religioso datado de 6 de Agosto de 1668.
O ritual de sacrifício do boi danado, evento religioso-pagão fora então adaptado e integrado no calendário litúrgico católico, nascendo desse facto os festejos em honra do Divino Espírito Santo, que perduram nos nossos tempos.
Não é, portanto, conhecida a data exacta em que a Meia Via ganhou esta denominação, mas pensa-se que ela provém do facto da povoação estar situada a meio caminho na estrada real de ligação Lisboa/Coimbra e possuir um poço público (actualmente quase completamente destruído) onde as caravanas paravam para descanso de homens e bestas (in "Mosaico Torrejano" de A. Gonçalves, pág. 228).
No início do século XIX, viviam e subsistiam os meiavienses na base do cultivo de pequenas parcelas agrícolas e da exploração dos baldios existentes na Charneca e arredores, quando foram espoliados de madeiras e lenhas pelo então administrador concelhio de Torres Novas.
Descontentes e indignados, apresentam reclamações e petições à Casa Real, conseguindo, com a sua pertinácia, despacho favorável à divisão dos referidos baldios pelas famílias, fugindo por este meio ao controlo e usurpação exercidos pela administração torrejana, constituindo-se em proprietários agrícolas, conseguindo assim mais um meio de subsistência.
Ainda nesse século foram, instituída a escola oficial local e fundada a Sociedade Filarmónica Euterpe Meiaviense.
O século XX chegou e trouxe consigo a decadência do regime monárquico.
Por entre lutas políticas de monárquicos e republicanos foi construído o cemitério de Meia Via em 1909, com fundos recolhidos por subscrição pública para a qual contribuíram as populações de quase todos os lugares da freguesia de Santiago.
Em 1910, cai a monarquia.
A burguesia emergente em Meia Via, partidária da República, afirma-se pelo fortalecimento do ensino local; abre a escola às raparigas e funda o Grupo de Recreio Musical Meiaviense (TUNA) e a biblioteca, ambos funcionando no Teatro Maria Noémia, construído nos anos 1924 e 1925 e inaugurado em 1926.
Ficaram célebres as récitas e bailes dos anos 30 na Tuna. É durante este período, de lutas políticas entre velhos adeptos monárquicos e republicanos vitoriosos motivados para a fundação da freguesia de Meia Via, que se assentua a divisão entre as populações de Meia Via, onde imperava a causa republicana, e os Pintainhos, Carreiro de Areia e Gateiras, ao ponto de até aos nossos dias, as famílias destas últimas localidades se recusarem a sepultar os seus mortos no cemitério de Meia Via, que eles próprios ajudaram a pagar.
Foi o fim de qualquer tipo vivência em comum que até aí possa ter existido.
Foi o culminar das lutas políticas de então que impediram a Meia Via de ser freguesia ainda antes dos anos 30.
Apesar das contrariedades os meiavienses sempre conseguiram manter a sua capacidade de lutar, de festejar, de aprender, de se cultivar, de trabalhar, de assegurar as tradições e sobretudo de amar a sua terra. No entanto, salvo raras excepções, os meiavienses continuaram sendo, essencialmente, trabalhadores rurais e pequenos proprietários até à II Guerra Mundial.
Só no princípio da década de 50, com o enorme desenvolvimento da indústria ferroviária no Entroncamento, e dos têxteis e lanifícios, do papel, da metalomecânica, da destilação e dos transportes rodoviários em Torres Novas, tanto umas como outras reclamaram essa mão de obra não qualificada, que de rural, se transformou em industrial.
Assim, os rurais e seus filhos transformam-se em operários, e, por sua vez, os filhos destes, já com formação técnica escolar, em operários qualificados e empregados dos serviços.
São, sobretudo estes jovens operários e empregados que, em 1956, fundam o Clube Desportivo Operário Meiaviense na ânsia de poderem praticar o futebol e o ciclismo.
Nos finais desta década, em plena época de transição e melhoria social dos meiavienses, acontece o facto mais triste e penoso da nossa história.
Antiga Ermida de Nossa Senhora de Monserrate
Um grupo de meiavienses, talvez bem intencionados, mas mal formados, decidiram destruir, em vez de conservar, a ermida de N8 Sra. de Monserrate, templo ao estilo rural anterior ao século XVII, com interior revestido a azulejo dessa época e altar em talha dourada.
Daquele belo e simultaneamente humilde templo restam o cruzeiro e a colecção de azulejos posteriormente aplicados na capela da Sra. do Vale em Torres Novas e actualmente classificados de interesse público.
Com o 25 de Abril, já na década de 70, novas perspectivas se abriram, e, uma vez mais, os meiavienses acreditaram e conseguiram, mais rapidamente do que parecia possível, assegurar o abastecimento público de água ao domicílio e o saneamento básico da aldeia.
Revigoraram as colectividades existentes e ainda tiveram tempo para fundar a Sociedade Columbófila Meiaviense, construir um posto médico, um jardim de infância, um mercado de frescos e iniciar a construção do Centro Social do Divino Espírito Santo.